terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Enterro do Pai Velho – Lindoso

Lindoso prepara-se, uma vez mais, para viver uma das suas manifestações anuais com maior relevo e encanto, quer a nível cultural e nível tradicional, a celebração do Entrudo Tradicional do Lindoso. Para se conseguir perceber melhor o significado desta festividade temos que recuar no tempo até à época em que o norte da Península Ibérica, mais concretamente a Galiza e o norte de Portugal, eram habitados pelo povo Celta e que organizavam um desfile para se despedirem do Inverno e ao mesmo tempo, pediam para que a primavera fosse o inicio de um ano próspero no desenvolvimento das sementeiras e que oferecesse condições para que se pudesse preparar o inverno seguinte da melhor maneira.


É baseado nestes fundamentos que ao longo dos anos a organização do Entrudo de Lindoso se tem empenhado em manter as suas origens intactas. Para tal, os preparativos começam sempre com uma antecedência considerável para que tudo corra dentro dos parâmetros traçados para manter toda a originalidade que lhe é reconhecida a nível nacional.


As festividades começam, por isso, no dia 5 de Janeiro, onde um grupo de voluntários se junta para cantar os “Reis”, amealhando todas as somas oferecidas pela povoação, para começarem a organizar o Entrudo. Antigamente ninguém dava dinheiro, oferecendo as unhas dos porcos, chouriças caseiras, broa de milho, batatas, couves, entre outros, que serviam para que se realiza-se uma ceia como forma de agradecimento, a "Ceia dos Reis" pela boa vontade demonstrada e disponibilização para a realização de mais um Entrudo, visto que quem canta as “Janeiras” fica responsável pela elaboração da celebração.

Depois do peditório começam uma série de reuniões, onde se traçam objectivos e se
distribuem tarefas a cada um dos membros presentes e assim se começa um longo e árduo percurso até ao dia das festividades.


No domingo, os carros tradicionais puxados por bois devidamente aparelhados e acompanhados ao som das concertinas, fazem um desfile em volta da aldeia, mostrando a toda a povoação o trabalho realizado e a manutenção da originalidade nos enfeites realizados quer nos carros de bois, quer nas cangas.
Os carros de bois são o elo de ligação com os “Povos Celtas”, onde estão bem patentes e vincados os grandes objectivos da festividade, isto é, cada carro está enfeitado de maneira a que descreva da forma mais explicita possível o seu significado, sendo que o carro do “Pai Velho” representa o Inverno e o fim dele, e por isso é decorado de uma maneira mais simples e triste. O carro tem um formato de barco feito com varas verdes cobertas de colmo, e no centro, num banco de madeira, vai sentado o “Pai Velho”, que é um boneco com corpo de colmo e cabeça de madeira.


O carro das “ervas” representa a chegada da primavera, tendo um formato de casa feita com fueiros e varas de junco e decorado com uma cobertura de colmo, e revestido lateralmente com ramos de cedro, mimosa, com bucho e japoneiras.


As cangas dos bois levam uma armação em arame devidamente revestida com papel colorido e com cordões de ouro emprestados pelas lavradeiras da terra pendurados e flores. É também de recordar que os carros depois de finalizados são escondidos e fechados, para assim os manterem longe dos olhares alheios.


Durante o percurso, o desfile pára varias vezes em pontos diferentes para se dar origem a autênticos bailaricos ao som das concertinas, sendo que uma dessas paragens se realiza também junto ao cruzeiro de Lindoso, onde decorre uma brincadeira por parte da organização. Estas brincadeiras são denominadas por este povo como as famosas “partes”, ou então pequenas peças de teatro onde se fazem sátiras dos mais variados assuntos.
Depois do cortejo e até de madrugada, faz-se um autêntico arraial minhoto acompanhado, muitas vezes, por dezenas de concertinas. Durante a segunda-feira temos as tasquinhas tradicionais durante todo o dia e baile à noite.
Na terça -feira volta-se a fazer mais uma vez o desfile, durante a tarde continua-se com o baile, aparecendo as “partes” e os famosos varredouros que vem para espantar os espíritos maléficos que estão entre nós, varrendo os pés de toda a gente com trapos velhos ensopados em água. Continua-se com o som das concertinas até próximo das 23h30, momento a partir do qual se dá inicio às celebrações fúnebres do “Pai Velho” mais conhecido por “Enterro do Pai Velho” (significa o fim do Inverno).



Depois de se assistir a uma missa improvisada, passa-se à queima e aí tem inicio uma autêntica choradeira por parte das mulheres em prol do tão adorado “Pai Velho”. Para finalizar as festividades, realiza-se a leitura do testamento do “Pai Velho”, onde se aproveita o momento para se darem recados a todos aqueles que nada fazem ou contribuem para o bem-estar da população da aldeia. É bom lembrar que as dificuldades para a organização deste evento tem sido acentuadas ao longo dos anos porque o trabalho tradicional da agricultura tem-se modernizado e consequentemente as pessoas optam pelos tractores e dessa maneira começam a escassear os bens essenciais necessários para levar avante esta importante manifestação cultural.
Por isso, contamos consigo no Entrudo do Pai Velho, em Lindoso, junto ao Castelo, nos dias, 6, 7 e 8 de Março.